
"A nova Diocese, os sussurros do clero
e o silêncio breve por um morto importante"
Em meio às dependências de Passo Novo, sob vitrais que filtravam a luz do luar como se já antevissem o peso simbólico daquela noite, Dom Miguel Dolezzio — Arcebispo-Primaz do Habbo — anunciou, com solenidade e voz firme, a criação da nova Diocese de Conceição.
O que à primeira vista poderia parecer mais um capítulo administrativo da Igreja, revelou-se um gesto altamente político e carregado de simbolismo. A nomeação de Dom Karol Rose como primeiro bispo da nova Diocese não surpreende aqueles que acompanham os movimentos recentes do Papa Gregório V — mas inquieta profundamente parte da Cúria e do Colégio Cardinalício.
Tanto Dolezzio quanto Karol são figuras que carregam nos ombros a esperança de muitos e a resistência de outros. Oriundos da Teologia da Libertação, têm trajetórias marcadas por uma leitura do Evangelho profundamente encarnada nas realidades sociais. Durante anos, foram vistos como “vozes incômodas” nos bastidores eclesiais. Hoje, tornam-se rostos visíveis de uma nova Igreja — mais próxima das dores do povo, mas também mais exposta às feridas internas do próprio clero.
Antes de iniciar o discurso oficial, o Arcebispo solicitou um minuto de silêncio pela morte do Padre Bruno Bortoluzzo, até então Secretário de Estado da Santa Sé. Mas o que se viu foi um instante desconcertante: o silêncio durou poucos segundos, e logo foi interrompido pela retomada formal da cerimônia, como se a partida de um homem tão influente houvesse se tornado um dado incômodo na nova paisagem.
Após a coletiva, longe das câmeras, houve uma reunião reservada entre o Arcebispo e seus bispos auxiliares, e o que era confidencial rapidamente se espalhou entre os corredores da Arquidiocese. Fontes confirmam que houve críticas incisivas e palavras duras por parte de Dolezzio, numa tentativa — segundo ele próprio teria dito — de “despertar a consciência pastoral adormecida de alguns”.
"A reunião virou quase um consistório romano em plena guerra fria", relatou um sacerdote presente. Um auxiliar teria abandonado a sala antes do fim. Outro saiu em lágrimas. Não houve bênção final.
O mal-estar é perceptível.
Embora a nova Diocese de Conceição represente, oficialmente, um passo da Igreja rumo a uma maior capilaridade evangelizadora, há quem veja no gesto uma movimentação estratégica da ala reformista, hoje mais fortalecida do que nunca. Um cardeal — em estrito anonimato — chegou a dizer, com pesar:
“Satanás entrou na Igreja de casula romana e mitra da CEBs.”
Expressão antiga, sim. Mas que ressurge agora como desabafo desesperado de um setor que vê o mundo que conheceu ser desfeito pelas próprias mãos do sucessor de Pedro.