da Irmã Orani Tempesta, MSF
Nascida sabe-se lá quando (ela mesma dizia que "quem tem fé não precisa de RG"), Irmã Orani ingressou cedo na vida religiosa, respondendo ao chamado de Deus e, segundo ela, ao chamado do bom senso — que andava em falta na Igreja. Professou votos perpétuos na Ordem da Sagrada Família e, desde então, foi presença imponente e necessária onde quer que passasse.
Foi transferida para a Paróquia Nossa Senhora do Povo durante o pastoreio do falecido Cardeal Darci Niciolli, que — homem de coragem — ousou colocá-la à frente da liturgia, da catequese, da limpeza, da sacristia e de tudo o que mais caísse no colo dela. E não caía por acaso: ela pegava no ar.
Firme como uma rocha e mais organizada que planilha de tesoureiro, Irmã Orani botava moral em bispos, padres, diáconos, ministros, leigos e até nos Papas — ao menos três, aos quais dirigiu cartas com sugestões de “melhorias pontifícias”. Tinha uma habilidade especial de fazer silêncio reinar com um olhar, e de expulsar qualquer "demônio da bagunça" com uma sacudida de terço.
Durante décadas, conduziu a catequese como um sargento santo, formando gerações de padres com a Bíblia numa mão e a régua na outra (pedagógica, claro). Em festas, era vista controlando o volume do som e impedindo o forró de ultrapassar o limite moral da alegria. Certa vez, impediu uma rebelião na Pastoral da Juventude usando apenas sua voz e uma colher de pau.
Faleceu em 2023, para desespero dos desobedientes e alívio breve dos preguiçosos — que logo perceberam que a memória dela continua os vigiando.
Hoje, reza-se que esteja no Céu, ajustando a agenda dos anjos e perguntando a São Pedro por que a calçada do Paraíso tem sujeira.
Uma coisa é certa:
a eternidade nunca mais foi a mesma depois da chegada dela.