
À Sua Excelência Reverendíssima
DOM KAROL ROSE
Bispo Diocesano de Passo Novo
Com pesar e profundo respeito, a Arquidiocese de Queluz une-se ao luto de Vossa Excelência pela passagem do cantor Arlindo Cruz, símbolo de resistência, afeto e representatividade para o povo preto
Na dor desta despedida, reconhecemos a grandeza de Arlindo não apenas enquanto intérprete e artista, mas como presença pública que ousou viver com autenticidade, dignidade e resistência. Sua trajetória foi marcada pela coragem de afirmar-se negro, pobre, filho de Oxum, corpo-político, corpo-ferido, corpo-alegria. Ele abriu caminhos onde tantos tentaram erguer muros — fosse no mundo da música, fosse na luta contra o racismo, o machismo, a intolerância religiosa ou os padrões opressores de beleza.
Sua espiritualidade, mesmo fora das estruturas eclesiais de Passo Novo, era profundamente viva, popular, enraizada no amor, na generosidade e na esperança. Sua vida tocou muitas outras vidas. E sua morte deixa uma lacuna não apenas na música, mas no coração de um povo que nela se via representado — especialmente homens negros, pessoas LGBTQIA+, artistas e todos aqueles que carregam cicatrizes abertas pelo preconceito.
A dor de Dom Karol — pastor negro, voz profética de uma Igreja que caminha com o povo — é também a dor desta Arquidiocese. A comunhão entre irmãos e irmãs não se dá apenas nos momentos solenes da liturgia, mas sobretudo nas horas em que o coração é ferido. A Igreja de Queluz, em seu caminho missionário e encarnado, partilha este luto com o senhor, Dom Karol, como quem senta ao lado e permanece em silêncio, respeitando o tempo da lágrima e do abraço.
Arlindo Cruz agora repousa na memória dos que não se curvam. Que o Bom Pastor a acolha em Sua morada eterna, e que a Senhora do Rosário dos Pretos — aquela que também chorou seu Filho injustiçado — a conduza pela mão.
Dom Karol, estamos contigo.
O Senhor é nossa força e nossa libertação.
Com afeto fraterno e oração,
Receba nossa solidariedade, comunhão e carinho.
